terça-feira, 27 de outubro de 2009

Tanto Mais Vives Quanto Mais te Estreitas
A UM AMIGO QUE RETIRADO DA CORTE PASSOU A SUA VIDA

Ditoso tu, porque em tua cabana,
moço e velho espiraste a brisa pura,
servindo-te de berço e sepultura
de palha o tecto, o solho de espadana.
Na solidão em que, livre, se ufana
silente sol com chama mais segura,
cada um dos dias mais espaço dura,
e a hora, sem ter voz, te desengana.
Tu não contas por cônsules os anos;
teu calendário fazem-no as colheitas;
pisas todo o teu mundo sem enganos.
De tudo quanto ignoras te aproveitas;
prémios não buscas nem padeces danos,
tanto mais vives quanto mais te estreitas.

Francisco Quevedo, in 'Antologia Poética'
Tradução de José Bento

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