sexta-feira, 31 de julho de 2009

FADO TROPICAL ( CHICO BUARQUE E RUY GERRA)

Oh, musa do meu fado, oh minha mãe gentil
Te deixo consternado no primeiro abril
Mas não sê tão ingrata não esquece quem te amou
E em tua densa mata se perdeu e se encontrou

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nóes herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo
(além da sífilis, é claro)
Mesmo quando minhas mãos estão ocupadas em torturar, esmagar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

Com avencas na caatinga alecrins no canavial
Licores na moringa um vinho tropical
E a linda mulata com rendas do Alentejo
De quem numa bravata Arrebato um beijo

Ai, essa terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo contesto
Se trago as mãos distantes do peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadura à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa"

Guitarras e sanfonas,jasmis, coqueiro, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas que corre trás-os-montes
E numa pororoca deságua no Tejo

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial.

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